terça-feira, 9 de setembro de 2014

Molas da Roupa e Colibris



Olá caro Por Falar Noutra Coisa e caros ouvintes. 

Fui brindado a semana passada por um texto que respondia ao desafio que lhe coloquei de escrever tendo como o ponto de partida “colibri”.  
Começou a sua estória com um emigrante falhado, que por acaso é um colibri com problemas físicos. Feliz coincidência apra dar coerência ao texto. Ora bem terminas o teu texto com: "eu não quero cá paninhos quentes" mas merecias um edredão, eléctrico e ligado em dia de chuva num descampado. Depois o teu colibri passa pela fase Tom Hanks e fica preso numa ilha. Mas logo aparece um peixe empreendedor chamado Miguel, mais uma feliz coincidência. 
E esse peixe salva o pequeno colibri (emigrante falhado, com problemas físicos e náufrago) com um discurso em jeito de “bate-papo” com cânticos da IURD por trás, aqui devias pagar imposto pois até a imaginação tem limites.

Depois a tragédia o colibri bom fica mau e come o peixe mau que afinal era bom. Tive que parar para respirar um pouco nesta parte.

Depois terminas com a moral! Boa! Uma estória com moral, não estava mesmo nada à espera disso.

Relembro que o ponto da tua moral 1 dizias: há colibris filhos da puta, e o ponto 3: todos os colibris são maricas.
Mas no ponto 2 da tua moral levantas um pouco o véu do Miguel Gonçalves que te possui. E passas a tua mensagem à humanidade. “Batam punho, pode não chegar e a maior parte das vezes não chega, mas batam punho!”

Ficámos todos a perceber que pessoas a bater punho exercem uma estranha atracção sobre ti.

Obrigado pela partilha!

Relativamente a Molas da Roupa apraz-me dizer o seguinte:

Era uma vez uma mola de roupa, era de plástico verde e tinha uma pequena alavanca metálica, vivia os seus dias a abrir e fechar, fechar e abrir. Mas uma noite na wikipédia descobriu que tinha sido inventada por um senhor americano chamado David M. Smith dois séculos antes.
 
Para ajudar dar um pouco mais de profundidade à minha investigação, decidi chamar à mola de roupa Georgina.

Era uma vez uma mola de roupa chamada Georgina, era de plástico verde e tinha uma alavanca metálica que lhe permitia abrir e fechar. Ela não se sentia realizada, abria e fechava quando lhe apertavam as extremidades, e pronto. Só isso!

A sua frustração e a sua busca pelo real sentido da sua existência levou-a a querer saber mais, a querer descobrir porque é que aquele senhor americano, o David, lhe tinha dado forma. Teria que haver mais alguma coisa do que abrir e fechar e prender roupa. 

Então numa noite, também na wikipédia, descobriu um serviço online de Detectives Do Tempo. Esses detectives viajavam no tempo e recuperavam todos os detalhes de todas as estórias de todas as pessoas. Georgina ficou curiosa, muito curiosa mesmo e logo na manhã seguinte vendeu o seu Smart no stand da esquina e com o dinheiro contratou os Detectives Do Tempo.

Que grande dia! Georgina ficou no computador a noite toda à espera de informações dos Detectives do Tempo. Eles eram tão bons que pelas seis da manhã enviaram o vídeo da estória de vida daquele que dois séculos antes tinha sido o seu pai. David M. Smith!

David M. Smith passava os seus dias entre a sua oficina que tinha um pequeno altar e a capela onde rezava fervorosamente. Amava a deus com todas as suas forças e fugia do pecado a sete pés. Ansiava pelo dia quem estaria no Paraíso junto a todos os seus santos e anjos e deus e querubins e cenas!

Mas algo atormentava o jovem David, e esse algo chamava-se Roberta e vivia do outro lado da rua. 

Roberta era uma rapariga voluptuosa que se aliviava todos os dias de manhã atrás de uma roseira no seu quintal. Essa roseira ficava a escassos metros da janela do humilde quarto do jovem inventor David M. Smith.
E todas as manhãs à mesma hora se repetia o suplício. David acordava, abria a janela e lá estava Roberta de costas e de saia levantada a aliviar-se na roseira. David M. Smith ficava confuso com os botões de rosa e sentia o pecado a crescer-lhe dentro das calças. E era um pecado grande!

Logo a seguir a esta visão infernal de pecado, (saliento que o pecado da Roberta tinha pêlos ruivos, e toda a gente sabe que os pecados com pêlos ruivos são os piores), David M. Smith corria para a capela e rezava a manhã toda, pedia perdão a deus mil vezes e depois passava o sentimento de culpa.

Mas era todos os dias, e David M. Smith começou a fazer contas de cabeça e decidiu que a situação tinha de terminar! Ganhou coragem e após um dia inteiro a rezar foi iluminado por uma inspiração divina e fechou-se na sua oficina de invenções. Apenas uma hora depois saiu de lá com um pequeno aparato. Chamou-lhe “abafador de pecado”.

Na manhã seguinte quando os glúteos rosados de Roberta se abriram atrás da roseira David M. Smith colocou o seu abafador de pecado na pontinha do grande pecado que tinha nas calças e ele ficou pequeno.
E todas as manhãs fazia o mesmo. Era incómodo ao início e para se distrair ele gritava várias vezes “aleluia, aleluia”.

E pronto! David M. Smith viveu feliz para sempre e quando morreu foi para o paraíso.
Georgina depois de ver o resultado da pesquisa dos detectives do tempo atirou-se para um churrasco.


Pois bem caro Por Falar Noutra Coisa. Na próxima segunda gostava de ler alguma coisa sobre “e.coli”. Até já
 




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terça-feira, 2 de setembro de 2014

A culpa é da agricultura biológica


A culpa é da Agricultura biológica, é verdade, aquela agricultura dos pepinos enrugados a quatro euros o quilo e de limões que parece que foram regurgitados por uma vaca. Dizem que é biológico e faz bem à saúde, para mim são só frutos e legumes feios.
A agricultura biológica é um revivalismo e todos os tipos de revivalismo são estúpidos desde os discos de vinil passando pelas camisas às flores, tudo parece estar na moda outra vez. É a eterna capacidade do ser humano em repetir erros. Se hoje não estamos bem e se foram todas as coisas do passado que nos trouxeram até aqui, porquê repetir? No mínimo, parvo.
O conceito é simples, tudo assenta no pressuposto que “o que é natural é bom”, e toda a gente sabe que hoje em dia não há quase nada natural e além disso o “natural” no caso do sexo, por exemplo, pode até ser perigoso.
Depois dizem que a natureza é sábia e que sabe tomar conta de tudo. Pois é, toma conta de tudo com tsunamis, tufões, furacões ciclones e tornados, fica tudo fora do lugar e desarrumado, é uma coisa chata. Além do mais, a natureza, devia estar caladinha pois também foi ela que criou a Cristina Ferreira.

Na agricultura biológica querem combater pragas com outros insectos,  e aqueles que preferem ver mosquitos e outros insectos a lutarem-se para salvar umas folhas de couve e esquecem-se dos filhos dos trabalhadores das fábricas de pesticidas, que podem até ter os pais com uma cor esquisita, mas pelo menos tem pão na mesa. Se gostam tanto de ver insectos a lutar que comprem uma Nintendo.

Agricultura Biológica é uma pedra no caminho da Ciência, tanto mais que todos os agricultores biológicos são contra os alimentos geneticamente manipulados, falo dos transgénicos, os transgenicos são bons, viçosos, maiores e com mais proteína, se eventualmente tiverem o ADN no mesmo estado de alguém que ouviu todos os Cd’s Delfins é uma cena que não se nota no sabor.

Os transgénicos são o futuro, ou acham que aquelas alfaces e cenouras mimadas da Agricultura Biológica estão aptas a sobreviver no mundo moderno das alterações climáticas e da poluição?

Se os dinossauros tivessem sido trabalhados geneticamente por cientistas inteligentes como aqueles que temos hoje, de certeza que já vinham equipados de origem com uns casaquitos de malha e tinham sobrevivido ao período glaciar.

E nos dias de hoje já estamos mais que habituados a mutações, pelo menos desde que existe a CMTV

Querer implementar agricultura da idade da pedra na era do chip faz tanto sentido como estar contente com o governo ou acreditar que as eleições vão mudar mais do que rabos no parlamento.
Por isso a culpa é da Agricultura biológica.
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quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Pequenos Holocaustos 4


Tocaram à campainha. Demorou a chegar o tempo da campainha tocar quatro vezes.
Aproximou-se da porta e entreabriu-a, uma mão passou cinco caixas e a outra um saco com três garrafas. O ar fresco entrou. Passou a nota e não recebeu troco. Ouviu uns risinhos e a palavra “foda-se” no corredor enquanto fechava a porta.
A sala não era grande, sentou-se muito devagar na mesa de mármore, era a única peça de mobiliário onde se podia sentar. Os dois lençóis que o vestiam pousaram no chão.
Abriu uma caixa e começou a comer a pizza.
Já não saia de casa há dois anos e pensou que aquelas caixas e aquelas garrafas não teriam o mesmo destino que os outros lixos. Não passaria mais horas a recortar tudo com uma tesoura e a colocar em sacos de plástico. Ocupavam menos espaço no quarto cheio de sacos, cheio de outros lixos.
Abriu uma garrafa e bebeu-a. Um litro e meio. Pousou a caixa de comprimidos ao seu lado na mesa. Da outra vez tinha utilizado apenas uma lamela e dormira dois dias. Tem tudo a ver com a massa corporal.
Agora era uma caixa e não iria falhar. Abriu a segunda caixa e comeu ao mesmo tempo que deixava cair os comprimidos um a um na terceira garrafa.
Sentiu uma cólica mas ignorou-a. Estava perto da casa de banho mas agora já não era necessário. Não se iria levantar para passar uma hora sentado na banheira, a sanita partira-a há um ano. É tudo uma questão de massa corporal.
Comeu as outras pizzas enquanto bebia a segunda garrafa. Os comprimidos desapareceram todos.
Bebeu a terceira garrafa com o sorriso nos lábios. Quando os bombeiros chegassem gostaria de ver como o levariam dali. Eram quase trezentos quilos e pela porta não podia sair. Há quase um ano que era pequena demais.
É tudo uma questão de massa corporal, mesmo para se ter paz.
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terça-feira, 12 de agosto de 2014

Memórias: Timor 2006 - Engarrafamentos



Memórias: Em 2006 passei seis meses em Timor-Leste. Este era um dos engarrafamentos mais comuns.

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Pequenos Holocaustos 3


Não conseguia respirar, um nó na garganta, um sufoco que lhe parecia o fim do mundo perfeito. As árvores outrora verdes ganhavam tons púrpura e vermelho.
Baixou-se mas mesmo assim o ar recusava-se a entrar nos pulmões, os trovões ouviam-se antes dos relâmpagos, o seu mundo estava todo ao contrário.
Pensou que nunca tinha imaginado que uma só acção pudesse destruir tudo. Como se o mundo estivesse preso por um fio frágil que a qualquer momento pode ser cortado.
A tentação, a tentação, a estranha atracção pelo abismo.
Levantou-se a custo apoiado à arvore, estava quente quase queimava. O nó na garganta, conseguiu respirar mas o ar tinha um sabor diferente.
Reparou que estava nu, sempre o tinha estado mas agora era estranhamente evidente, como se o sufoco lhe tivesse limpo o olhar, pela primeira vez teve medo.
A seu lado, Eva encolheu os ombros e esboçou um sorriso que mais lhe pareceu um esgar.
Ficou com a sensação que a partir daquele momento é que realmente tudo iria começar.
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quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Pequenos Holocaustos 2





Quando está tudo bem a luz é diferente. As manchas brancas no pára-brisas do carro fizeram-no sorrir. Já tinha amaldiçoado e praguejado demasiadas vezes, cabrões dos pombos.  Mas hoje sorriu, coitados dos animais, também precisam, se não, explodiam. Sorriu mais. Carregou no botão e o carro apitou duas vezes, estava aberto. Até o carro parecia sorrir, parecia que piscava o olho, um olho branco irregular branco de merda. Inspirou e sentiu-se mesmo bem-disposto. Caiu do céu e chegou muito rápido, dois segundo depois de chegar a luz desapareceu. Era amarela e caiu na perpendicular, um raio de luz amarelo. O parietal estalou, uma lata amarela a cair do oitavo andar tem esse efeito. Nos dois segundos até à escuridão lembrou-se da mulher, oito andares acima sentada na cozinha, uma dentada recortada na torrada. Lembrou-se do filho, três anos, um gargalhar puro que rimava com o castanho dos olhos. Lembrou-se da mão pequenina a segurar uma lata amarela, dizia atum. Caiu de costas na calçada, os olhos a subirem pelo prédio acima até à janela do oitavo andar. Uma mão pequenina aberta.
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De quem é a culpa? - Geleria Men



"De quem é a culpa" será por aqui uma rubrica regular, na prática é a minha nobre tentativa de arranjar culpados num país onde por norma a culpa morre solteira. E apesar do registo ser escrito fica aqui uma crónica de abertura em audio. Cortesia de Miguel Heleno e Ana Pedro. Divirtam-se e digam coisas.

Oiçam tudo neste link:   De que é a culpa 1





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